30 de jan. de 2010

Nota da Comissão Pastoral da Terra - CPT

Espetacularização da Justiça


Nota divulgada no dia 29-01-2010.
Fonte: UNISINOS


Tem sido noticiada fartamente por todos os grandes meios de comunicação, nos dias 26, 27 e 28 de janeiro de 2010, a prisão de nove trabalhadores nos municípios de Iaras e Borebi, interior de São Paulo, acusadas de participação na ocupação e nas ações em terras da Cutrale, cujo objetivo era de chamar a atenção da sociedade brasileira sobre as terras públicas ocupadas pela maior exportadora de suco de laranja do mundo, no final de 2009. Os sem-terra foram presos e algemados. A imagem de Miguel Serpa, uma das lideranças do MST na região, algemado, e de outros foi estampada nos jornais e veiculado nos noticiários dos canais de televisão brasileiros.

Este caso nos faz lembrar de como, em 2008, quando a PF na operação Satiagraha prendeu 17 pessoas, entre elas o banqueiro Daniel Dantas, o investidor Naji Nahas, e o ex-prefeito Celso Pitta; o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, acusou de "espetacularização" a prisão feita pela PF e criticou o uso das algemas. Ainda avaliou que, de modo geral, existe exposição “excessiva e degradante” das pessoas investigadas pela Justiça. Diversos senadores e deputados saíram em apoio ao Presidente do Supremo por ter tomado esta posição. Alguns dias depois, no dia 06 de agosto, o STF decidiu, por unanimidade, proibir o uso abusivo de algemas, pois na palavra do presidente do Supremo, fere o "princípio da dignidade da pessoa humana”.

Diante disto a Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra, se pergunta: Onde estão o presidente do STF, Gilmar Mendes, e os demais ministros do Supremo e os políticos tão ciosos da preservação da dignidade humana? Por acaso se ouviu da parte deles a condenação do abuso da ação policial na prisão dos trabalhadores? Não terá sido uma exposição “excessiva e degradante” à que foram submetidos e que fere o princípio da dignidade da pessoa humana?

Mas, não adianta esperar por tais manifestações, pois faz parte da cultura jurídica interpretativa dos fatos e das leis, em nosso país, a diferença de tratamento entre a elite deste país e os trabalhadores.

O que é mais grave, a destruição de alguns pés de laranja, ou o assalto aos cofres públicos com o desvio de milhões e milhões para interesses particulares ou partidários? Na interpretação das mais altas autoridades do Judiciário, quem desvia recursos públicos, quem se locupleta com os bens da Nação, merece um tratamento cuidadoso, pois sua dignidade não pode ser arranhada. Já o pobre, quando ativamente luta pelos seus direitos, quando denuncia o esbulho do patrimônio público, como a grilagem de terras praticada pela Cutrale, este tem que ser exemplarmente punido, para desestimular ações semelhantes.

Situações como esta não são novidade. Já o profeta Isaias denunciava os que “convertiam o mal em bem e o bem em mal” e proclamava “Ai dos que absolvem o injusto a troco de suborno e negam fazer justiça ao justo” (Isaias 5, 20 e 22). A CPT só espera que um dia realmente todos sejam iguais perante a lei, como afirma a Constituição Federal.

Goiânia, 29 de janeiro de 2010
Comissão Pastoral da Terra - CPT

Monsanto: Contaminação preocupa produtores

De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Sinop, Antônio Galvan, a falta de espaço para armazenamento também acaba resultando na contaminação. Como as empresas não têm silos separados para as sojas, acaba misturando. Ou tendo que enviar para outras cidades. “Se o produtor tiver um armazém em sua propriedade e estocar grãos de variedades convencionais e transgênicas juntos, haverá a contaminação. E a cobrança dos royalties será feita de todo o produto estocado”, afirma Galvan. A notícia é do jornal Diário de Cuiabá e divulgada por Amazonia.org.br, 29-01-2010.
Fonte: UNISINOS


Os produtores alegam que a empresa também não definiu uma porcentagem de transgenia para efeito da cobrança. Desta forma, cerca de 2% a 3% da safra acaba ficando para pagar a patente da tecnologia RR.

O setor critica esta forma de cobrança e diz que tem conhecimento dos critérios que são utilizados pela empresa para definir os valores cobrados.

Nós queremos pagar, mas não sabemos como é definida esta cobrança ou se é feita aleatoriamente. Nós também não recebemos nota fiscal pelos valores que pagamos, então não temos como contabilizar como despesa na propriedade para declarar Imposto de Renda”, afirma Galvan.

Conforme o presidente do sindicato, desde 2006 o setor está em conversações com a empresa, mas não obteve nenhuma resposta positiva. “Por isso decidimos entrar com uma ação para inviabilizar esta forma de cobrança e para que a empresa forneça nota fiscal, e também informe a patente e validade nas embalagens”.

O documento ainda está sendo formatado pelo setor jurídico da entidade, que já teria sido procurada pela Monsanto para debater a problemática novamente.

Guerra à Monsanto

A guerra dos produtores mato-grossenses à Monsanto – multinacional detentora da tecnologia de sementes transgênicas da soja, conhecida como RR (Roundup Ready) – está declarada. Depois de esgotadas todas as tentativas de diálogo com a empresa, os produtores já pensam em acionar a Justiça. Em Cuiabá, a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja) prepara ação judicial contra a Monsanto. E, em Sinop (500 Km ao Norte de Cuiabá), os produtores também estudam entrar na Justiça contra a empresa. A reportagem é de Marcondes Maciel e Tania Rauber, publicada pelo Diário de Cuiabá e reproduzida por Amazonia.org.br, 29-01-2010.
Fonte: UNISINOS


A Aprosoja quer saber se os valores pagos em royalties pelos sojicultores são devidos. “Queremos saber que tipo de patente que está gerando esta cobrança, pois dependendo da patente, a empresa não direito de cobrar nada. Precisamos saber também o período de validade da patente”, explica o presidente da Aprosoja, Glauber Silveira.

Em Mato Grosso, os produtores elevaram a área plantada de transgênicos de 2,6 milhões de hectares (safra 2008/09) para cerca de três milhões de hectares na safra deste ano. A expansão da área vai aumentar também o lucro da Monsanto, que saltará de R$ 39 milhões para R$ 45 milhões de uma safra para outra, incremento de 15,38%. O valor cobrado pela Monsanto pelo uso da patente, de acordo com cálculos dos produtores, é de R$ 15 por hectare.

A Aprosoja pretende fazer uma notificação para que a Monsato apresente justificativas para a cobrança do royalties. “Temos informações de que a Monsanto está induzindo as sementeiras do Estado a produzir somente sementes transgênicas”, denuncia Silveira. Em Mato Grosso, os transgênicos já ocupam metade de toda a área plantada de soja, cerca de 6 milhões de hectares.

SINOP - Depois de várias conversações, sem resultado, o Sindicato Rural de Sinop estuda propor ação contra a Monsanto. Atualmente, cerca de 50% das lavouras da região Norte de Mato Grosso são cultivadas com variedades transgênicas. Estas se diferenciam das convencionais por serem tolerantes à herbicida à base de glifosato, usado para dessecação pré e pós-plantio, para eliminar qualquer tipo de planta daninha.

Essa tolerância faz com que o agricultor possa aplicar apenas esse herbicida sobre a soja, reduzindo assim seus custos de produção e o número de aplicações. Porém, o questionamento do setor é quanto a cobrança dos royalties pelo uso da semente.

O presidente do Sindicato, Antônio Galvan, explicou que são feitas duas cobranças. A primeira delas na compra da semente, por meio de boletos. “Em janeiro, eles cobraram R$ 0,45 cada quilo de semente, o que equivale a cerca de 30% do preço da saca”.

O principal questionamento é quanto a segunda cobrança, que é feita na saída do produto. Ao chegar nos armazéns, o grão passa por um teste que vai apontar se é transgênico ou não. O problema ocorre porque, em muitos casos, a oleaginosa convencional é contaminada e os produtores acabam tendo que pagar os royalties sem ter adquirido sementes transgênicas.

Isso ocorre tanto na lavoura, por meio de polinização ou na hora do plantio, quanto na hora de estocar a safra. “Se tiver uma lavoura de soja transgênica ao lado de uma convencional, na época da florada, pode ocorrer a polinização. Se as máquinas, na hora do plantio, não forem bem limpas e ficar algumas sementes de transgênicos, também pode haver a contaminação. Desta forma, na hora dos testes, são consideradas transgênicas”.

28 de jan. de 2010

Combate à escravidão é reforçado por semana e data especiais

A partir de segunda-feira (25 de janeiro), atos e debates em vários Estados tratarão dos desafios para a erradicação do trabalho escravo contemporâneo. Assinaturas para a aprovação do confisco de terras de escravagistas serão recolhidas
Fonte: Repórter Brasil

O combate ao trabalho escravo ganhou uma semana e um dia especial. A partir da próxima segunda-feira (25), serão realizadas atividades em vários estados do país com o propósito de sensibilizar a população, em geral, acerca da questão e de aumentar a pressão social para que haja cada vez mais avanços com vistas a erradicar a escravidão contemporânea. O ponto alto das diversas mobilizações será na quinta-feira (28) - data que marca oficialmente o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo.

Um dos temas centrais das atividades, para além das conquistas e das dificuldades referentes à extinção do crime, será a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 438/01, que prevê a expropriação de terras onde houver exploração de trabalho escravo. Nos atos e debates organizados em torno do tema, serão coletadas adesões para o abaixo-assinado que pede a aprovação imediata da emenda, que aguarda pelo segundo turno da votação no Plenário da Câmara dos Deputados desde 2004.

Um dos principais eventos da programação será a oficina "Trabalho escravo: o quanto já caminhamos e o que falta a fazer?", marcada para quarta-feira (27), durante o Fórum Social Mundial 2010, em Porto Alegre (RS) com a participação do ministro chefe da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH/PR), Paulo Vanucchi.

Dados e informações sobre os segmentos que utilizam mão de obra escrava, atuação do poder público no combate ao crime e propostas legislativas que ajudariam a acabar com a escravidão contemporânea estão entre os principais temas que serão tratados durante o evento.

A oficina também discutirá o papel das organizações da sociedade civil, como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade que atua com destaque na denúncia, na prevenção e no apoio a trabalhadores libertados. Também haverá espaço para a abordagem de instrumentos de repressão econômica, como o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, que reúne mais de 200 empresas e associações - cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do país - que se comprometeram a não adquirir produtos ou financiar empreendimentos envolvidos em casos de trabalho escravo.

O balanço político e jurídico do tema está previsto para a primeira parte da oficina contará com a participação de Laís Abramo, da Organização Internacional do Trabalho (OIT); ministro Paulo Vannuchi, da SEDH/PR; senador José Nery (PSol-PA), presidente da Comissão de Combate ao Trabalho Escravo do Senado Federal; Marcus Barberino, juiz do trabalho da 15ª Região; Sebastião Caixeta, da Coordenação Nacional do Combate ao Trabalho Escravo (Conaete) do Ministério Público do Trabalho (MPT).

Xavier Plassat, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Leonardo Sakamoto, da ONG Repórter Brasil, Francisco José dos Santos Oliveira, da Associação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Prevenção do Trabalho Escravo em Monsenhor Gil (PI) e um representante da Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) farão o balanço social.

A oficina ocorrerá no dia 27 de janeiro, das 14h às 17h, no auditório do Semapi (Rua General Lima e Silva, 280), na capital gaúcha. A organização do evento é da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae) e Frente Nacional contra o Trabalho Escravo.

Ato público

O Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo foi instituído por meio da Lei nº 12.064, publicada no Diário Oficial da União de 29 de Outubro de 2009. A data foi escolhida em homenagem aos auditores fiscais do trabalho Erastóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva, e ao motorista Ailton Pereira de Oliveira, assassinados em 28 de janeiro de 2004, durante fiscalização na zona rural de Unaí (MG).

Na manhã (10h) da quinta-feira (28), o Sindicato Nacional de Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait) promoverá ato público em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília (DF), para lembrar justamente do episódio que ficou conhecido como "Chacina de Unaí". O protesto se voltará contra a morosidade da Justiça no que diz respeito ao julgamento dos assassinatos, que completaram seis anos sem que os responsáveis fossem punidos.

"Como representantes de uma sociedade democrática e justa, temos o compromisso de não deixar que atos dessa natureza sujem essa sociedade e caiam no esquecimento", afirma a presidente do Sinait, Rosângela Silva Rassy, em carta de convite para a manifestação.

Pelo país

A programação em São Paulo (SP) será marcada pela realização do I Fórum Estadual de Combate ao Trabalho Escravo. O evento será nos dias 28 e 29, no auditório da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP). O Fórum será realizado no âmbito do Pacto Contra a Precarização e Pelo Emprego e Trabalho Decentes em São Paulo - Cadeia Produtiva das Confecções, firmado entre diversas organizações da sociedade civil, entre elas a Repórter Brasil, e outros órgãos oficiais.

O objetivo do evento é chamar a atenção para essa grave questão das relações de trabalho, bem como criar um ambiente favorável à elaboração conjunta de planos de trabalho visando à erradicação do trabalho degradante na cadeia produtiva têxtil em São Paulo. O auditório da SRTE/SP está localizado na Rua Martins Fontes, nº 109, 2º andar. Para se inscrever acesse http://www.mte.gov.br/delegacias/sp/forum201

O evento "Combate ao Trabalho Escravo em Minas Gerais - Perspectivas e Desafios", na terça-feira (26), às 10h, terá a sede do Ministério Público do Trabalho (MPT), em Belo Horizonte (MG), como palco. Mazelas do trabalho escravo no Estado serão debatidas. Na ocasião, será feito manifesto pela reestruturação das fiscalizações rurais na região Noroeste de Minas.

"Esta data tem importância singular, não apenas porque aqui ocorreram os assassinatos, mas também porque, desde a chacina, as fiscalizações trabalhistas no setor rural da região Noroeste do Estado sofreram abrupta queda, por falta de estrutura de segurança para viabilizar a atuação firme dos auditores fiscais do Trabalho", avaliam os procuradores Helder Amorim e Sônia Toledo. O auditório fica na Rua Bernardo Guimarães, 1615.

No dia 28, às 18h30, será realizado ato no Palácio do Governo, em Palmas (TO), com a presença do secretário estadual de Direitos Humanos, membros da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da Comissão Estadual para a Erradicação do Trabalho Escravo (Coetrae-TO) e da Procuradoria da República (PR-TO). O ato marcará a retomada dos trabalhos da Coetrae. Será apresentado protocolo de intenções ao governo estadul, com medidas simbólicas e concretas no âmbito da educação, cidadania etc. Na ocasião, será exibido o filme "Frente de Trabalho", produzido pelo Sinait.

Em Belém (PA), ato político e cultural será realizado na Praça da República, no centro da cidade, em pleno domingo (31), para coletar assinaturas em favor da PEC 438/01. Haverá apresentações de artistas locais.

14 de jan. de 2010

O 'Satã da agricultura' no pódio da Forbes

por Renata Camargo. Renata é formada em Jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB) e especialista em Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável pelo CDS/UnB


A edição da revista Forbes que elegeu a Monsanto como a empresa do ano chega às bancas na próxima segunda-feira (18). A multinacional foi escolhida como a companhia “vencedora” por estar no “topo da concorrência no segmento de sementes biotecnológicas na maior parte da década”. A empresa, apesar de seus “problemas de imagem”, conseguiu superar os “inimigos” e ter lucros invejáveis.

No ano passado, o valor de mercado da Monsanto foi de US$ 44 bilhões, com venda de US$ 7,3 bilhões de sementes e tecnologias – três bilhões a mais do que a concorrente direta DuPont. Nos Estados Unidos, 90% de toda a soja cultivada no país e 80% das culturas de milho e algodão “são plantadas com sementes que contêm a tecnologia da Monsanto”.

O reconhecimento à Monsanto, segundo a Forbes, se dá também pela capacidade da empresa de se espalhar pelo mundo. As sementes transgênicas já ocupam 8 milhões de hectares na Índia com a cultura de algodão, 14 milhões de hectares de soja no Brasil e 17 milhões de hectares também de soja na Argentina, segundo informações da Forbes. A América do Sul, a Ásia e a África estão sendo tomadas pela biotecnologia patenteada da Monsanto.

Na reportagem que consagra a Monsanto como a empresa do ano, a Forbes exalta as conquistas econômicas da multinacional e ressalta que, na maior parte do tempo, a empresa trabalhou para “alimentar melhor a humanidade”, mas “foi alvo de duras críticas”. Segundo a revista norte-americana, a empresa foi tratada como “o Satã da agricultura” por “ousar modificar os genes do milho e da soja” e agora enfrenta uma “nova leva de inimigos” por seu “suposto pecado” de produzir “sementes boas demais”.


Ousar modificar os genes e produzir sementes boas demais não é o pecado original da Monsanto na visão de vários cientistas, pesquisadores, agricultores e outros “inimigos”. A Monsanto carrega o título de ‘Satã da agricultura’ pelo nobre prodígio de ser reconhecida, entre outras coisas, por falsificar mais de 170 mil estudos científicos, por abusar da publicidade do herbicida Roundup sem alertar que o produto é altamente cancerígeno e por introduzir sementes transgênicas contrabandeadas em países que resistem a essa biotecnologia.

Os alicerces da empresa, segundo ela, são calcados nos valores “honestidade, decência, consistência e coragem”. Mas para expandir seus negócios a empresa não tem medido “ousadias” em suas estratégias. O primeiro produto geneticamente modificado da Monsanto, por exemplo, o hormônio bovino Posilac, provocava mastite nas tetas das vacas. A mastite produzia pus nas tetas e o leite comercializado trazia os sedimentos.

O leite com Posilac e outros antibióticos usados para neutralizar os efeitos causados pelo hormônio nas vacas foi comercializado durante anos e a Monsanto pressionou até o último segundo na Justiça para continuar a vender o produto salvador. O presidente da Monsanto de 1986 a 1993, Earl Harbison, admite em entrevista a Forbes que “provavelmente, este não foi o melhor produto a ser lançado primeiro”. Erro estratégico apenas. E assim a Monsanto vai passando por cima de seus compromissos de respeito ao consumidor, transparência nas informações e diversos outros princípios.

Não precisa ir muito profundo. É só acompanhar superficialmente a história da multinacional para perceber sua trajetória de desrespeito ao consumidor. Diversas publicações são boas fontes para conhecer quem é a empresa do ano da Forbes. O livro “Transgênicos: as Sementes do Mal – a silenciosa contaminação de solos e alimentos”, da editora Expressão Popular, organizado por Antônio Inácio Andrioli e Richard Fuchs, é uma delas.

Outra fonte interessante é o documentário O Mundo segundo a Monsanto, da jornalista francesa Marie-Monique Robin. O documentário está no Youtube, dividido em 11 partes e com legendas em português.

http://www.youtube.com/watch?v=DFJVlUvD1_Y&feature=player_embedded

13 de jan. de 2010

Um camponês contra Kátia Abreu

O camponês Juarez Vieira Reis foi expulso em 2003 da terra onde vivia desde o seu nascimento, em Tocantins, graças a uma intervenção judicial a pedido da senadora Kátia Abreu (DEM/TO). É que ela recebeu as terras de Juarez de presente do ex-governador tocantinense Siqueira Campos. O Projeto Agrícola Campos Lindos, criado em 1999, expulsou dezenas de pequenos posseiros de suas terras para entregá-las a figurões políticos e endinheirados, entre eles, a presidente da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), entidade que aglutina grandes proprietários rurais. A reportagem é de Eduardo Sales de Lima e publicada pelo Brasil de Fato, 12-01-2010.
Fonte: UNISINOS

Entre as terras “doadas” por Siqueira Campos a Kátia Abreu, estavam os 545 hectares onde Juarez vivia desde o seu nascimento: a fazenda Coqueiro. Em dezembro de 2002, a senadora entrou com uma ação de reintegração de posse da área que lhe havia sido presenteada. Ela passou por cima da ação de usucapião em andamento, que dava respaldo legal à permanência da família de Juarez no imóvel. A Justiça de Tocantins aprovou a reintegração de posse e expulsou o posseiro e seus parentes.

Invasora

O despejo de Juarez, sua esposa, dez filhos e 23 netos ocorreu em abril de 2003, sem nenhum aviso prévio. Ele não pôde recolher suas criações, tanto de galinhas como de porcos, nem colher os alimentos que produziam, como mandioca e arroz. Tudo teve que ser abandonado.

A família rumou para uma chácara do filho de Juarez, nos limites de Campos Lindos, onde vive até hoje. O genro de Juarez, Rui Denilton de Abreu, aponta para um fato pouco divulgado na imprensa. Ele afirma que alguns dias depois de a família ter se alojado na casa, ocorreu um incêndio suspeito no local. “Isso foi intencional. Na minha consciência, eu sinto que isso foi um atentado à família dele. E o próprio boletim de ocorrência diz isso, que o fogo foi de cima pra baixo e de fora pra dentro. Foi acidental?”, questiona.

Passados mais de sete anos, cerca de 20 pessoas da família repartem hoje apenas dois cômodos de uma casa de sapê. E as refeições seguem irregulares. Segundo Juarez, apesar disso, o período após o despejo foi o que mais o preocupou em termos de alimentação.“Eu passava a noite inteira sem dormir, preocupado, pensando: 'será que eu vou ser obrigado a pedir comida nas casas, eu que sempre vivi de barriga cheia? Hoje eu vou ver a minha família assim por causa de uma senadora?'”, refletia.

“São sete anos nesta situação, e eu já estou com 61. Tenho medo é de morrer e deixar esse problemão para a família. Se tivesse na frente dela, eu perguntava, em primeiro lugar, se ela tem filho, se ela gostaria de ver um filho dela sofrendo igual ela está fazendo a minha família sofrer. Se ela achava bom”, desabafa.

Resistência

Mas, mesmo não tenho Kátia na sua frente, Juarez a enfrenta. E, diferentemente dos posseiros expulsos para as reservas do Cerrado, o agricultor decidiu lutar por seus direitos, pelo imóvel no qual sempre viveu. Ele tem em mãos documentos da propriedade, dos quais um data de 1958. O processo está em andamento pela Comarca de Goiatins.

Há cinco meses, ele foi à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e conseguiu forçar o Tribunal de Justiça de Tocantins a julgar tanto a ação de usucapião de 2000 como o pedido de liminar impetrado há seis anos para garantir a volta da família.

Enquanto isso, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Luiz Couto (PT-PB), encaminhou um ofício ao Conselho Nacional de Justiça para denunciar a influência de Kátia Abreu na Justiça do Tocantins e apressar os processos de pequeno agricultor.

Em nota, Kátia afirmou que é proprietária de terras no município de Campos Lindos, devidamente escriturada. Afirma ter “a posse mansa e pacífica da mesma desde a sua aquisição” e que Juarez Reis é “invasor contumaz de terras alheias”.


9 de jan. de 2010

CUT repudia declaração de Boris Casoy

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços (CONTRACS) se manifestaram contra a declaração do jornalista Boris Casoy. Segundo as entidades, a afirmação do apresentador do Jornal da Band foi “ultrajante”. A notícia é do sítio Comunique-se, 06-01-2010.
Fonte: UNISINOS


No último dia 31/12 Boris declarou que os garis estavam “no mais baixo na escala de trabalho”. No dia seguinte o apresentador pediu “profundas desculpas” durante o jornal, mas o caso ganhou repercussão pelos vídeos no YouTube. Ontem (05/01), a Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Prestação de Serviços de Asseio e Conservação e Limpeza Urbana de São Paulo (Siemaco), anunciou que nesta quarta-feira (06/01) daria entrada com uma ação civil pública contra o jornalista.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços (CONTRACS/CUT) como representante da categoria considera ultrajante o ato e repudia as declarações do jornalista Boris Casoy. E destaca que a categoria é de grande importância social para toda a sociedade, incluindo o próprio jornalista”, diz o texto.

As entidades comentaram especificamente sobre a cena dos garis desejando feliz ano novo que motivou a declaração do jornalista. “Para os autodenominados formadores de opinião, o razoável é que o trabalhador ou trabalhadora, particularmente aqueles que realizam tarefas manuais, se coloquem em 'seu devido lugar', portanto, garis varrendo ruas e não dirigindo mensagens de confraternização na celebração do novo ano. Afinal, não é qualquer um que pode pronunciar mensagens ao público em geral, essa é a função dos mais preparados, ou seja, da elite pensante”.

O texto também lembra da falha do operador de áudio. “O operador de som, sem saber, prestou um grande serviço público ao mostrar a verdadeira face do conservadorismo do país, com seu autoritarismo, preconceito e ódio em relação aos trabalhadores pobres que varrem ruas, servem café ou limpam seu ambiente de trabalho e sua casa”.

Os desalojados da soja. O modus operandi do agronegócio na Argentina

Os casos de pequenos agricultores que se veem forçados a abandonar as terras onde vivem e trabalham há décadas são cada vez mais numerosos. Giangranco Macri e outros grandes empresários são protagonistas das expulsões ocorridas por estes dias. A reportagem é de Sebastián Premici e está publicada no jornal Página/12, 26-12-2009. A tradução é do Cepat.
Fonte: UNISINOS

São histórias pessoais e coletivas que se repetem em diferentes pontos do país. Modus operandi reiterado que se multiplica com as declarações em primeira pessoa dos afetados e nos escritos judiciais: primeiro, os camponeses são enganados para assinar documentos que supostamente os beneficiariam; em seguida, chega a intimação para abandonar suas terras; depois a presença policial para concretizar o desalojamento e um sistema judicial que se converte “na ferramenta mais sofisticada do modelo do agronegócio”, como denunciou a Página/12 o advogado Ramiro Fresneda, integrante do Movimento Camponês de Córdoba. São histórias comuns que afetam camponeses e moradores originários de Salta, Formosa, Santiago del Estero, Córdoba, Santa Fe – a lista continua – que passam seus dias entre a criação de animais, a colheita de vegetais, grãos e a luta para não serem desalojados.

Enquanto isso, o campo visível, o da Mesa de Enlace, olha para o outro lado e defende seus interesses. Atrás do silêncio se amparam Gianfranco Macri, a empresa Madera Dura del Norte, o empresário Jorge Bellsolar Ferrer, os dirigentes Edgardo e Juan Carlos Scaramuzza (Federação Agrária) e Ricardo Buryaile (CRA), deputado eleito pelo radicalismo.

Na sequência, Página/12 apresenta algumas destas histórias que tornam visível o que muitos se empenham em ocultar.

Um irmão exemplar

No departamento de Rivadavia, na Província de Salta, o empresário Gianfranco Macri, irmão do chefe de Governo portenho, Mauricio Macri, quer desalojar várias famílias de agricultores. Há seis meses começou o julgamento que sentou no banco dos réus a família Garnica, que ocupa 170 hectares. Gianfranco Macri diz que comprou 15.000 hectares em 2006, dentro das quais moram estes camponeses.

“Os pequenos produtores pedem que lhes seja reconhecido o principal direito que têm, que é a posse dessas terras por terem vivido e trabalhado ali toda a sua vida há várias gerações. Desde que o processo começou, os povoadores não comem nem dormem tranquilos. Eles reclamam o direito de posse e, se depois tem que sentar para negociar quantos hectares corresponde a cada um, não têm problema. O que eles reclamam não é nem 10% do total que Gianfranco Macri diz ter”, asseverou a este jornal Rebecca Russo, advogada da Organização de Pequenos Produtores do Chaco Saltenho, entidade que conta com o apoio da Federação Agrária. De acordo com os camponeses da zona, o objetivo de Macri é a produção de soja e a criação intensiva de gado em feedlots.

Em outubro de 2007, o Fórum Provincial da Agricultura Familiar fez Juan Manuel Urtubey assinar uma ata em que o então deputado e agora governador se comprometia a desenvolver um Plano Estratégico para o Desenvolvimento Rural, que no primeiro ponto fixava a regularização da posse da terra aos povoadores rurais. Dois anos depois, o julgamento dos camponeses continua. Por outro lado, as comunidades indígenas (wichí) também continuam esperando a regularização de suas terras (Lei 26.160/06).

Em agosto passado, os wichí fizeram uma manifestação na Corte Suprema reclamando seus direitos. A Defensoria do Povo, por sua vez, fez uma visita à zona de Embarcación, onde vivem 25.000 pessoas, rodeadas por 10 comunidades indígenas, que estão na beira das estradas 34, 53 e 81, esperando, pacientes, uma resposta oficial.

Poder político e empresarial

“Em Formosa, há uma conivência entre os intendentes e os representantes da Mesa de Enlace. O intendente de General Belgrano, Amado Bobadilla (FpV) – que agora está afastado das entidades agropecuárias –, nunca interveio a favor dos camponeses. Não existe nenhuma experiência de intendentes, ao menos na zona, que tenham julgado a favor dos camponeses”, denunciou a este jornal Benigno López, dirigente do Movimento de Camponeses de Formosa (Mocafor).

Nesta província há dois casos emblemáticos. Um ocorre em General Belgrano, onde Ricardo Buryaile, dirigente patronal de CRA e empresário milionário – de acordo com seus próprios companheiros federados da Mesa de Enlace –, impulsionou o desalojamento de dez famílias de uma área de 38 hectares, onde vivem camponeses de entre 20 e 80 anos.

O outro caso emblemático ocorre no município de Ingeniero Juárez, departamento de Matacos, em um propriedade que se chama La Florencia, de aproximadamente 60.000 hectares, onde vivem mais de cem famílias de crioulos e indígenas. Os camponeses, que se dedicam à criação de gado, cabras, porcos, entre outros animais, são perseguidos pelo empresário Jorge Bellsolar Ferrer que, através de sua empresa Sociedad de Parques SRL, procura desalojar esses produtores para expandir a fronteira agrícola.

Benigno López denunciou em reiteradas oportunidades a conivência entre Ferrer, o intendente de Ingeniero Juárez, Cristino Vidal Mendoza, e a polícia local, sob o comando do oficial Pablo Sosa. “Ferrer expulsa os camponeses e vende as terras a preços internacionais. Há dois anos começou a reclamar formalmente os hectares de La Florencia. Antes disso se apresentava como alguém que queria ajudar os camponeses, os fazia assinar papéis com a desculpa de que conseguiria subsídios e assim foi se cobrindo com um manto legal, mas ilegítimo, para reclamar algo que não lhe pertence”, indicou López. Em Formosa, há 3 milhões de hectares em situação de conflito.

Modus operandi

De acordo com um relatório da Defensoria do Povo da Nação (2006), há anos os habitantes de Sol de Mayo, departamento de Alberdi (Santiago del Estero), resistem às pressões da empresa Madera Dura del Norte, companhia que alega possuir títulos sobre aproximadamente 156.000 hectares. Uma investigação da Defensoria descreve um modus operandi que se repete nos diferentes testemunhos recolhidos por este jornal. Segundo a denúncia dos vizinhos da zona, em várias oportunidades houve tentativas de desalojamento, com repressão policial, tiros de borracha, onde agiram tanto forças de segurança nacional como o Grupo Especial de Tática Operacional de Alto Risco, divisão especial da polícia da província de Santiago del Estero.

Dentro dos hectares tomados ilegalmente pela Madera Dura del Norte S.A. vivem mais de 1.500 famílias camponesas, há postos de saúde, destacamentos policiais e um cemitério. “Apesar das reiteradas denúncias, no Juzgado de Monte Quemado são recrutados policiais e supostamente gendarmes para custodiar parapoliciais e os tratores, da empresa Desmontes Londero, que já desmataram mais de 15.000 hectares. A reclamação de toda a população das regiões visitadas é que o sistema judiciário da província estaria agindo sistematicamente a favor dos empresários. A isso se acrescenta a grande dificuldade dos camponeses para ter acesso à Justiça”, conclui o referido relatório.

Federação Agrária e dois desalojamentos

Ramona Bustamante, de 83 anos, vive, desde que nasceu, em um campo situado no lugar chamado Las Maravillas, a vinte quilômetros da localidade de Sebastián Elcano, no norte de Córdoba. Por ser filha extra-matrimonial, suas meias-irmãs, depois da morte de seu pai, venderam a área de 230 hectares onde vivia. Isto foi em 1984. Depois da venda, o campo passou por várias mãos até cair na posse dos irmãos Edgardo e Juan Carlos Scaramuzza, que fizeram Ramona assinar um convênio de desocupação.

Ramona assinou sob a crença de que os reclamos judiciais terminariam. Mas não foi bem assim. Em 2003, foi desalojada, mas conseguiu voltar ao seu campo. A Justiça insistiu, e em 2004 voltaram a desalojá-la. Os irmãos Scaramuzza, que foram acusados de fraude, mas rapidamente descumpriram a ordem, são dirigentes da Federação Agrária de Oncativo. Segundo indicou a este jornal um dirigente da entidade, quando este fato se tornou conhecido, se recomendou a sua expulsão, mas não deu em nada.

A luta do granito vermelho

José Luis Godoy, de 43 anos, enfrentará na próxima segunda-feira [28 de dezembro de 2009] junto com sua irmã Alcira a sentença por um processo em que são acusados de usurpadores de uma área de 26 hectares, localizado dentro do campo onde sua família vive há mais de 60 anos. Um produtor e empresário local, de nome Víctor Manuel Gómez, reclama esses hectares, já que detém algumas pedreiras de Granito Vermelho Imperial, recurso natural de alto valor econômico.

“Faz mais de 60 anos que vivemos na comunidade Represa Morales, a 10 quilômetros de Villa de Soto (Córdoba). Não temos luz elétrica, tomamos água do próprio poço, assim como nossos avós faziam. Fomos à escola rural a três quadras de casa. Esta é a nossa vida, criamos cabras, porcos, ovelhas, é um campo que puxa o clima árido, de 400 hectares. Há muitos anos, um certo Víctor Manuel ‘Maluco’ Gómez chegou à zona dizendo que era dono das terras. O tipo dizia que meu pai havia assinado um papel cedendo os 26 hectares onde está o granito vermelho. O advogado de meu pai nesse momento era Aristóbulo Gutiérrez, depois resultou que se associou com Gómez para nos dar o calote. Os dois se juntaram para nos desalojar”, relata.

“Gómez também disse que meu pai lhe cedeu 200 hectares de campo. Em 2003, começou o processo por usurpação e o perdemos. Fomos a cassação em fevereiro de 2009. Agora parece que podemos ser presos. Este empresário é um capanga que vai ganhando o medo dos vizinhos matando animais e negando o acesso à água; ameaça as mulheres quando os homens trabalham nas montanhas. Tudo o que quer são as pedreiras”.

Há parâmetros gerais que se dão tanto em Santiago del Estero, Catamarca, Salta ou Córdoba, que é ver a terra como mercadoria ou como parte de um negócio para poucos, onde se fomenta a expulsão de camponeses. “O sistema judiciário é a ferramenta mais sofisticada do modelo do agronegócio. O Poder Judiciário, que deveria servir para equiparar a desigualdade natural, acaba favorecendo os mais poderosos. De um lado, ficam os defensores do agronegócio, com a soja na dianteira e a especulação imobiliária. Contrários aos seus interesses estão os agricultores familiares”, concluiu o advogado Ramiro Fresneda, integrante do Movimento Camponês de Córdoba.