15 de nov. de 2009

O Brasil está entre os 10 países que mais desperdiçam comida no mundo

O investimento em tecnologia de ponta nas últimas décadas colocou o Brasil entre os países mais competitivos do agronegócio no mercado internacional, mas não foi suficiente para acabar com um problema básico: o desperdício de alimentos ao longo da cadeia produtiva A reportagem é de Débora Carvalho e publicada pela revista Desafios, set/out 2009.
Fonte: UNISINOS



Com a crise econômica internacional, a estimativa da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) é que, até o final de 2009, a América Latina deve contabilizar 53 milhões de famintos. Ao mesmo tempo, os países da região desperdiçam grandes volumes de alimentos, que seriam suficientes para alimentar toda a população carente. Para a FAO, a redução das perdas é uma solução para o aumento da oferta de comida. As causas primordiais desse prejuízo são maus hábitos de alimentação e o gerenciamento inadequado, desde o plantio até a chegada do produto à mesa do consumidor.

O Brasil está entre os 10 países que mais desperdiçam comida no mundo. Cerca de 35% de toda a produção agrícola vão para o lixo. Isso significa que mais de 10 milhões de toneladas de alimentos poderiam estar na mesa dos 54 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza. Segundo dados do Serviço Social do Comércio (Sesc), R$ 12 bilhões em alimentos são jogados fora diariamente, uma quantidade suficiente para garantir café da manhã, almoço e jantar para 39 milhões de pessoas.

O descuido percebido no processo produtivo se repete na casa das pessoas. De acordo com o Instituto Akatu, organização não-governamental dedicada a promover o consumo consciente, uma família brasileira desperdiça, em média, 20% dos alimentos que compra no período de uma semana. Em valores, isso representa US$ 1 bilhão, dinheiro suficiente para alimentar 500 mil famílias. Além das pessoas que poderiam ser alimentadas com o que vai para o lixo, desperdiçar significa prejuízo financeiro. Levantamento da Secretaria de Abastecimento e Agricultura do Estado de São Paulo mostra que todos os alimentos não aproveitados ao longo da cadeia produtiva representam 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, um rombo de R$ 17,25 bilhões de reais no faturamento do setor agropecuário.

Em 2005, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) analisou os índices de perdas do plantio à pré-colheita dos principais grãos cultivados no país, entre 1996 e 2002, tais como arroz, feijão, milho, soja e trigo. Essa pesquisa aponta que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimava perdas de grãos em cerca de 10% da produção, o que correspondia a 9,8 milhões de toneladas, considerando números da safra 2000/2001.

O governo promete para 2010 um novo estudo do panorama do desperdício na lavoura, o que vai ajudar na formulação de alternativas para resolver o problema. "Já havia um contrato com uma universidade federal para começar o estudo no ano passado, mas o projeto foi postergado por problemas contratuais', explica o superintendente de Armazenagem e Movimentação de Estoques da Conab, Milton Libardon

Segundo ele, o governo dispõe de um orçamento de R$ 500 mil para começar o trabalho e está negociando parcerias com 15 universidades em todo o Brasil para uma pesquisa de perdas, que deve ser iniciada em 2010.

O superintendente da Conab ressalta a necessidade de conhecer o problema para combatê-lo. 'As perdas existem, mas estamos usando índices estrangeiros. E o desperdício maior acontece na hora da colheita. Caminhando na roça, é visível a produção perdida', comenta.

Uma alternativa apontada pelo superintendente da Conab - muito comum nos países desenvolvidos - é o financiamento de armazéns nas próprias fazendas. Isso reduziria a manipulação do produto, que passaria a ser transportado apenas uma vez para a indústria de beneficiamento ou para o varejo. "O problema é que isso é muito caro", afirma Libardoni. Hoje, é preciso levar a produção do campo para a armazenagem e daí para o processamento.

A falta de qualificação e tecnificação no campo foi uma realidade apontada pela pesquisa do IBGE, que avaliou as perdas agrícolas. Segundo o estudo, o prejuízo começa muito antes da perda física, relacionada ao produto que fica pelo caminho antes da comercialização. No plantio, por exemplo, foi verificado que o uso de sementes de baixa qualidade ou a escolha de variedades não recomendadas para as condições de clima da região e a falta de preparo correto do solo podem representar perdas nas lavouras antes e depois do momento de colher os produtos.

Os pesquisadores apontaram, inclusive, que é na fase de colheita que ocorrem as maiores perdas e os motivos são diversos. Um exemplo é a falta de regulação, operação e manutenção adequadas das colheitadeiras ou equívocos na identificação do grau de maturação do produto. A partir dessa pesquisa, é possível observar que questões colocadas como desafios à mitigação desse desperdício ainda hoje são citadas como entraves a serem resolvidos. "Um problema também seria treinar o pessoal dos armazéns e os operadores de colheitadeiras para reduzir prejuízos", sugere Libardoni.

As dificuldades se repetem na pós-colheita. Falta infraestrutura na rede de armazenagem e no transporte da produção brasileira. Nessa fase, os estragos podem ocorrer tanto do ponto de vista físico, como da qualidade do produto. Os pesquisadores do IBGE identificaram que os danos mais expressivos se dão nas commodities, com perdas ao longo do transporte até a chegada aos portos. Segundo o Ministério da Agricultura, em 2008, o Brasil arrecadou US$ 71,9 bilhões com as exportações de produtos agropecuários.

Para o consultor em Logística e Infraestrutura da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Luiz Antônio Fayet, os debates sobre o desperdício revelam a ponta de um iceberg, formado pelos fatores que minam a competitividade do agronegócio brasileiro. Ele explica que as pessoas se impressionam ao ver os grãos à beira das estradas, caídos dos caminhões, mas isso seria insignificante se comparado às perdas financeiras no carregamento de estoques. "Não existe perda zero, o prejuízo físico tem uma variação de cerca de 5%. Mas o custo e os problemas, gerados pela falta de infraestrutura, acarretam prejuízos muito maiores', afirma Fayet.

Segundo o IBGE, a estimativa é de que 67% das cargas brasileiras sejam deslocadas pelo modal rodoviário, o menos vantajoso para longas distâncias. Conforme estudo de viabilidade econômica dos transportes de cargas, o modal rodoviário é o mais adequado para as distâncias inferiores a 300 km, enquanto o ferroviário o é para distâncias entre 300 km e 500 km; e o fluvial para distâncias acima de 500 km.

Esse entrave se agravou ainda mais com a mudança na geografia de produção que passou das regiões Sul e Sudeste para o Centro-Norte do país. Um exemplo é o valor pago pelo frete em relação ao que o agricultor recebe pelo produto. Segundo Fayet, em 2007, um produtor de soja do município de Sorriso, Mato Grosso, recebia R$ 23 pela saca e gastava R$ 12 para levá-la até o porto, onde embarcaria a carga para o mercado internacional. Ou seja, o gasto com o escoamento representava mais de 50% do valor recebido pelo produtor. "Além do grão que é desperdiçado, o Brasil fica impedido de crescer e de se tornar ainda mais competitivo', comenta.

No Paraná, governo, iniciativa privada, universidades e entidades ligadas ao agronegócio se juntaram para trabalhar contra o desperdício. Há seis anos são organizados concursos regionais e estaduais para premiar os agricultores que apresentam os menores índices de perdas nas lavouras até a colheita. O extensionista do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR), Luiz Vicentini, explica que o objetivo é estimular produtores e operadores a realizarem com mais cuidado a tarefa da colheita. A meta é chegar o mais próximo possível dos níveis de perdas aceitáveis para cada região, no caso da soja, em média uma saca por hectare.

A apuração dos resultados é feita por técnicos da Emater e acadêmicos da Universidade Estadual de Maringá, que percorrem as lavouras antes e depois da colheita, contabilizando e medindo o que foi desperdiçado. Na última edição do prêmio, o ganhador perdeu menos de 5 quilos por hectare. "Mais de 30 prêmios, como carros, motocicletas e máquinas agrícolas, são um estímulo para as pessoas cuidarem melhor, ajustarem as máquinas, reduzindo os prejuízos', diz Vicentini.

Ele explica que a iniciativa começou em 1995, quando os organizadores da Festa da Colheita da Soja - tradicional no estado - perceberam que, além da comemoração, poderiam mobilizar os produtores. "É importante pensar nisso, porque desperdiçar significa o lucro líquido do agricultor que vai embora. E a competição tem promovido uma mudança de cultura também nos mais de 200 colhedores que trabalham nas fazendas', ressalta o técnico. Ele lembra ainda que o concurso paranaense é um exemplo que já atraiu técnicos de outros estados produtores, principalmente do Centro-Oeste, para conhecer e levar a ideia a outros lugares.

Mas o caminho do desperdício não se limita ao percurso da colheita até o transporte. Quando se fala em frutas e hortaliças, produtos mais perecíveis, as perdas são ainda maiores e ultrapassam os limites do campo, chegando ao varejo e às cozinhas brasileiras. Um estudo da FAO, de 2004, revela que o Brasil está entre os 10 países que mais jogam comida no lixo, com perda média de 35% da produção agrícola. A Embrapa Agroindústria de Alimentos realizou uma pesquisa focada nesse tipo de produtos e mostrou que o brasileiro joga fora mais alimentos do que, efetivamente, leva à mesa. Nas 10 principais capitais do país, o consumo anual de vegetais é de 35 quilos por habitante. No entanto, o desperdício chega a 37 quilos por habitante/ano.

Do total de desperdício no país, 10% ocorrem durante a colheita; 50% no manuseio e transporte dos alimentos; 30% nas centrais de abastecimento; e os últimos 10% ficam diluídos entre supermercados e consumidores. Segundo o pesquisador da Embrapa, Antônio Gomes, o fim desse problema tem vantagens em diferentes aspectos.

"Se o Brasil reduzisse as perdas, poderia oferecer mais produtos para o mercado interno, barateando os preços, e também exportar mais, sem a necessidade de investimentos adicionais na abertura de novas fronteiras agrícolas", argumenta Gomes. Ele afirma que o índice de perdas é maior do que se consegue calcular, basta observar a quantidade de lixo orgânico gerado nas centrais de abastecimento das grandes capitais.

De acordo com um levantamento do governo de São Paulo, o volume de perdas da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), o maior mercado da América Latina, chega a 1% de tudo o que é vendido em um dia, ou seja, mais de 100 toneladas diárias no lixo.

O pesquisador da Embrapa explica que o problema começa no campo, mas culmina no varejo. Colheita incorreta, transporte inadequado, embalo dos produtos em caixas de madeira são exemplos de práticas que resultam em uma realidade preocupante: muitos produtos que saem do campo para a cidade nem chegam a ser comercializados, porque se perdem no caminho. Isso significa que o custo para produzir aquele alimento foi totalmente perdido. "Muitas frutas, como laranja, abacaxi, são transportadas a granel em caminhões, que vão sacudindo na estrada e causando injúrias nos vegetais que nem chegam às prateleiras'.

Antônio Gomes lembra que não existe uma cadeia de frio para distribuir esse tipo de produto. Ele argumenta que, em um país de dimensões continentais como o Brasil e com clima tropical intenso durante a maior parte do ano, seria mais adequado que frutas, legumes e verduras saíssem das lavouras direto para o resfriamento. A temperatura precisaria ser mantida em baixos níveis durante o transporte e o período de exposição no varejo, o que não acontece no Brasil.

Outro problema apontado pelo pesquisador é a falta de informação dos consumidores. Não se trata apenas de saber aproveitar melhor os produtos na hora de cozinhar, mas sim da necessidade de cuidados também no momento da compra. "É preciso educar o consumidor. Se na hora de escolher o quiabo, você quebra a ponta, ninguém mais vai querer esse produto. Se, ao escolher o tomate, o cliente amassa o vegetal, é mais uma perda", exemplifica Gomes.

Em meio a tantas formas de desperdício, a alta conta gerada pelas perdas não fica diluída ao longo da cadeia. Segundo a Embrapa, agricultor e consumidor são os mais prejudicados. Isso acontece porque o investimento para produzir, manipular e transportar o alimento já foi feito. Antes do produto se perder, a rede varejista faz uma previsão de perdas e repassa tanto ao preço pago ao produtor, quanto ao que é cobrado do cliente. "O agricultor recebe menos e o consumidor paga mais. É preciso rever esse processo, porque o varejo dilui o prejuízo. Investir em produtividade tem significado também aumentar o volume do desperdício. Quanto mais produzimos, mais jogamos fora. É preciso pensar com mais seriedade em uma solução para as perdas", lamenta o pesquisador.

O Ministério da Agricultura possui uma regulamentação que classifica os vegetais e estabelece regras para manter a qualidade, mas, na prática, as normas não são cumpridas. "Governo e agentes do mercado precisam ser parceiros e fazer valer a lei". Para o pesquisador, a mudança desse quadro passa pela qualificação de todos os envolvidos na cadeia produtiva, desde o trabalhador rural que colhe o alimento até os estoquistas e funcionários dos pontos de varejo.

A redução do desperdício, no entanto, é uma preocupação séria da rede varejista. A Associação Brasileira de Supermercados (Abras), em parceria com outras entidades, faz todos os anos uma avaliação de perdas. A pesquisa mostrou que, em 2007, mais de 82% dos pontos de varejo pesquisados possuíam departamentos específicos para cuidar desse assunto e 75% deles reconheciam ter investido em soluções. O levantamento, feito todos os anos, busca identificar causas e avaliar o custo-benefício para a implantação de programas de prevenção de perdas.

Em 2007, o índice médio de desperdício foi de 2,15% do total comercializado, desse volume 55% são produtos perecíveis. Apesar de permanecer crescendo desde 2004, o ritmo de perdas no caso específico dos perecíveis avançou apenas 0,2 ponto percentual ao final de três anos. O estudo da Abras chama atenção para o fato de as perdas de perecíveis terem reduzido em 2007, mas revela um aumento desse prejuízo com causas desconhecidas. Isso dificulta a formulação de iniciativas para combater o problema.

14 de nov. de 2009

Professores da UFPA saem em defesa do MST

A produção de um "novo" massacre?
Fonte: Correio da Cidadania 


É clara a campanha nacional de criminalização dos movimentos sociais no Brasil e também é nítida a participação nesse processo de setores de nossa sociedade comprometidos com a defesa da propriedade privada em detrimento de sua função social. Englobando essa campanha ainda temos nossas mídias impressas e televisivas veiculando matérias e reportagens que criam fatos e divulgam versões de acontecimentos desmoralizando movimentos e suas bandeiras de luta.

Nesse cenário, a desmoralização do MST parece ser a primeira tarefa desta campanha nacional de criminalização dos movimentos sociais e o sentido que ganha essa desmoralização é claro: é preciso criar fatos e notícias que construam uma imagem negativa do movimento para que qualquer ação contra o mesmo tenha uma legitimidade social; coloniza-se o imaginário para legitimar ações brutais.

Mas precisamos analisar os fios que tecem essas estratégias e as conseqüências drásticas que as mesmas estão trazendo e podem ainda trazer.

No caso do MST uma rede muito bem estruturada e articulada vem produzindo, quase que diariamente, um conjunto de fatos que viram notícias de ampla circulação e divulgação nacional, sendo que estas notícias ganham autonomia de construir realidades e, assim, difundir uma verdade sobre o movimento que ganha aceitação e, muitas vezes, aclamação popular.

A estratégia de produção do estereótipo começa com a construção de um fato que ganha tons de negatividade e desorganização da pretensa "ordem" social. Os fatos são literalmente criados obscuramente e nos momentos de mobilização e agendas do movimento, algo deve acontecer...

Após o fato efetivado é preciso criar notícias e fazer circular uma imagem de destruição. Nestes termos, fatos isolados ganham uma visibilidade estrondosa, no sentido de ações obscuras forjadas para se criar fatos jornalísticos, e se transformam na prática usual.

Diante das notícias uma necessidade se edifica: construir os mocinhos e os bandidos da situação. Logicamente que esta é hora de se vestir o discurso jornalístico com os tons do discurso legalista e automaticamente condenar o movimento criminalizando-o.

Até aí a mídia assume as rédeas da desmoralização, após isso outros sujeitos políticos entram no processo.

A justiça, nesse sentido, após o fato se consolidar como algo que deve ser resolvido de forma urgente, precisa encontrar os culpados e, assim, personifica-se o movimento e se indicia suas lideranças, no sentido de desmobilizá-lo.

Diante de todas estas estratégias, que são engolidas dia-a-dia pela população através das notícias, cria-se uma legitimidade social para as prisões. Será que um novo massacre está se construindo?

Estamos vendo e vivenciando no sudeste do Pará mais uma tentativa desmedida de criminalização do MST que articula múltiplas esferas de poder com a condescendência passiva de nossa mídia vendida e vendível.

O MST iniciou dia 3 de novembro a Jornada de Lutas pela Reforma Agrária exigindo a desapropriação imediata de todas as fazendas ocupadas por eles para atender 2000 famílias acampadas no estado do Pará.

É durante as atividades desta jornada de lutas que mais um fato se cria e mais uma vez o MST é criminalizado, como que se lutar pela função social da propriedade fosse crime no Brasil.

Na última sexta-feira não tivemos um novo massacre novamente na curva do "S" em Eldorado dos Carajás, pois lá estavam pessoas que impediram a ação violenta da polícia.

O pior de tudo isso é que a sociedade, pela campanha da mídia de demonização do movimento, não compreende o valor de sua luta e acaba legitimando as ações violentas contra o mesmo. Temos de ter o cuidado de não sermos cúmplices de um novo massacre que se anuncia.

O Núcleo de Educação do Campo da Universidade Federal do Pará, Campus de Marabá, tem desenvolvido parcerias estratégicas de formação com o MST, a FETAGRI, a Via Campesina e outros movimentos, no sentido de construir a autonomia dos sujeitos participantes através da formação de um senso crítico acerca das contradições envolvidas no processo de desenvolvimento pensado para a Amazônia.

Por isso, o Núcleo de Educação do Campo da Universidade Federal do Pará – Campus de Marabá apóia o MST e reforça a necessidade de abertura de negociação com o INCRA, o MDA e o ITERPA, colocando-se completamente contra as prisões recentemente decretadas, pois acredita que a defesa da FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE é algo que a Constituição prevê e deve garantir.

Justiça social no campo só com REFORMA AGRÁRIA.


Marabá, 11 de novembro de 2009.


Assinam:

Bruno Cezar Maleiro – professor UFPa
Alexandre – professor UFPa
Haroldo Souza – professor UFPa
Francinei Bentes Tavares – professor UFPa
Eliana Pereira M. Soares – professora UFPa
Ronaldo da Silva Souza – professor UFPa
Edma Moreira – professora Ufpa
Cloves Barbosa – professor UFPa
Hildete dos Anjos – professora Ufpa
Joseline Simone Trindade – professora UFPa
José Pedro Martins – professor UFPa
Evandro Medeiros – professor UFPa
William Assis Santos – professor UFPa
Fernando Michellotti – professor UFPa
Idelma Santiago – professora IFPa
Airton Pereira – professor UEPa
Maria Carolina de Souza santos – estudante UFPa
Suzane Chagas Rodrigues – estudante UFPa
Roman de Souza Cabral – estudante UFPa
Simone Brandão Miranda – estudante UFPa
Maria Lúcia da Silva Coelho – estudante UFPa
Leandro de Souza e Silva – estudante UFPa
Cristiano Brito da Silva – estudante UFPa
Adriany Costa Ferreira – estudante UFPa
Aline Carla A. Carvalho – estudante UFPa
Carla Betânia Reiher – estudante UFPa
Iramita Alves Pimentel – estudante UFPa
Sidineia dos Santos Reis – estudante UFPa
Iara Fernandes Reis – estudante UFPa
Ynoã Soares de Camargo – estudante UFPa
Junior Gleyssom da Cruz – estudante UFPa
Elias F. de Souza – estudante UFPa
Zildeane Rodrigues de Medeiros – estudante UFPa
Thiago Martins da Cruz – estudante UFPa
Agelson Vaz Nascimento – estudante UFPa
Genivaldo Sousa Rocha – estudante UFPa
Adriano Vieira – estudante UFPa
Jane Martins dos Santos – estudante UFPa
Ângela Maria Gregório – estudante UFPa
Risone B. Costa – estudante UFPa
Osmarina Oliveira – estudante UFPa
Suzy Gomes dos Santos – estudante UFPa
Antonielda da Silva assunção – estudante UFPa
Rafael Rodrigues Lopes – estudante UFPa
Marcelo Melo dos Santos – estudante UFPa
Etiane Patrícia dos Reis – estudante UFPa
Raimundo Gomes da Cruz Neto – Sociólogo
Eric de Belém – Antropólogo
Rosemayre Bezerra - Socióloga

11 de nov. de 2009

NÃO AO DESEMPREGO, por Saramago

Diante das manifestações que se estão preparando em toda a Europa, de protesto contra o desemprego, escrevi, a pedido de um grupo de sindicalistas, o texto que a seguir se reproduz.


Não ao Desemprego


A gravíssima crise económica e financeira que está convulsionando o mundo traz-nos a angustiante sensação de que chegámos ao final de uma época sem que se consiga vislumbrar o que e como será o que virá de seguida.

Que fazemos nós, que assistimos, impotentes, ao avanço esmagador dos grandes potentados económicos e financeiros, loucos por conquistar mais e mais dinheiro, mais e mais poder, com todos os meios legais ou ilegais ao seu alcance, limpos ou sujos, regulares ou criminais?

Podemos deixar a saída da crise nas mãos dos peritos? Não são eles precisamente, os banqueiros, os políticos de máximo nível mundial, os directores das grandes multinacionais, os especuladores, com a cumplicidade dos meios de comunicação social, os que, com a soberba de quem se considera possuidor da última sabedoria, nos mandavam calar quando, nos últimos trinta anos, timidamente protestávamos, dizendo que não sabíamos nada, e por isso nos ridicularizavam? Era o tempo do império absoluto do Mercado, essa entidade presunçosamente auto-reformável e auto-regulável encarregada pelo imutável destino de preparar e defender para sempre e jamais a nossa felicidade pessoal e colectiva, ainda que a realidade se encarregasse de desmenti-lo a cada hora que passava.

E agora, quando cada dia aumenta o número de desempregados? Vão acabar por fim os paraísos fiscais e as contas numeradas? Será implacavelmente investigada a origem de gigantescos depósitos bancários, de engenharias financeiras claramente delitivas, de inversões opacas que, em muitos casos, mais não são que massivas lavagens de dinheiro negro, do narcotráfico e outras actividades canalhas? E os expedientes de crise, habilmente preparados para benefício dos conselhos de administração e contra os trabalhadores?

Quem resolve o problema dos desempregados, milhões de vítimas da chamada crise, que pela avareza, a maldade ou a estupidez dos poderosos vão continuar desempregados, mal-vivendo temporariamente de míseros subsídios do Estado, enquanto os grandes executivos e administradores de empresas deliberadamente conduzidas à falência gozam de quantias milionárias cobertas por contratos blindados?

O que se está a passar é, em todos os aspectos, um crime contra a humanidade e desde esta perspectiva deve ser analisado nos foruns públicos e nas consciências. Não é exagero. Crimes contra a humanidade não são apenas os genocídios, os etnocídios, os campos de morte, as torturas, os assassinatos selectivos, as fomes deliberadamente provocadas, as contaminações massivas, as humilhações como método repressivo da identidade das vítimas. Crime contra a humanidade é também o que os poderes financeiros e económicos, com a cumplicidade efectiva ou tácita de os governos, friamente perpetraram contra milhões de pessoas em todo o mundo, ameaçadas de perder o que lhes resta, a sua casa e as suas poupanças, depois de terem perdido a única e tantas vezes escassa fonte de rendimiento, quer dizer, o seu trabalho.

Dizer “Não ao Desemprego” é um dever ético, um imperativo moral. Como o é denunciar que esta situação não a geraram os trabalhadores, que não são os empregados os que devem pagar a estultícia e os erros do sistema.

Dizer “Não ao Desemprego” é travar o genocídio lento mas implacável a que o sistema condena milhões de pessoas. Sabemos que podemos sair desta crise, sabemos que não pedimos a lua. E sabemos que temos voz para usá-la. Frente à soberba do sistema, invoquemos o nosso direito à crítica e ao nosso protesto. Eles não sabem tudo. Equivocaram-se. Enganaram-nos. Não toleremos ser suas vítimas.

José Saramago, 10/11/2009
Fonte: O Caderno de Saramago

10 de nov. de 2009

Os muros que isolam os ricos dos pobres



Os EUA, que têm uma fronteira de 3.200 km com o México, constróem, desde 2006, um duplo muro de 1.125 km de comprimento entre a Califórnia e o Texas para impedir a imigração clandestina proveniente do sul.




Na província de Buenos Aires, na Argentina, um muro foi erigido para separar o bairro rico de San Isidro daquele mais pobre de San Fernando.




Um muro cerca a favela de Santa Marta na zona sul do Rio de Janeiro.




Uma cerca separa o Zimbabwe da África do Sul. É uma tentativa de impedir que cidadãos do Zimbabwe, esfomeados, migrem ilegalmente para o país vizinho do sul.




Marroquinos esperam diante do muro que separa o Marco do enclave espanhol de Ceuta em 2008.




Operários instalam uma nova cerca para separar o enclave espanhol de Melila do Marrocos e limitar, desta maneira, a migração para a Europa.



Em 2006, a municipalidade de Pádua, no nordeste da Itália, erigiu um barreira de aço de 84 metros de comprimento e 3 metros de altura para isolar um "ghetto" - um conjunto de seis imóveis ocupados por imigrantes - do resto da cidade. Um bairro complexo onde a polícia tem grande dificuldades para combater o tráfico de drogas.


Fotos: Le Monde, 29-10-2009.
Fonte: UNISINOS



Palestino derruba parte do muro que separa a Cisjordânia de Israel durante protesto, ontem, que lembrou as comemorações dos 20 anos da queda do Muro de Berlim.




Fonte: Bernat Armangue/Associated Pres - Folha de S. Paulo, 07-11-2009.
Fonte: UNISINOS

4 de nov. de 2009

Cutrale e a moral do “sepulcro caiado”

Por Roberto Malvezzi (Gogó), ex-coordenador da CPT, é agente pastoral.
Fonte: Correio da Cidadania



Faço esse texto a pedido de muitos amigos. Para muitos, o meu texto "Cutrale devolve terras griladas" fez com que muita gente acreditasse na conversão da empresa. Então, dou as devidas explicações.

A ocupação da Cutrale pelo MST trouxe algumas perplexidades. Eu mesmo me senti constrangido quando o movimento foi acusado de depredar e, sobretudo, de furtar objetos pessoais de funcionários da empresa. Depois, o próprio Movimento lançou uma nota pedindo desculpas de seus erros, negou a depredação e, sobretudo, o furto de alguns objetos. Achei a carta do MST bonita e convincente. Só os magnânimos têm capacidade de reconhecer seus próprios erros. O Movimento teve.

Entretanto, vendo a televisão e jornais, fiquei indignado com a moral farisaica que jorrou sobre o caso. Deputados, setores da mídia, profissionais da mídia, até o presidente da República, desfilaram uma onda de ataques ao movimento, mas sempre ocultando o problema mais grave, isto é, o fato de a empresa ocupar área pública grilada. Foi pretexto até para uma nova CPI sobre os Sem Terra.

E não é só a Cutrale. O professor Ariovaldo Umbelino estima que cerca de 200 milhões de hectares de terras públicas, 25% do território brasileiro, estão ocupados ilegalmente. Agora esse número deve diminuir, já que o governo Lula decidiu legalizar o grilo de 67 milhões de hectares só na Amazônia. Mas não é só ali. O Pontal do Paranapanema e outras regiões do Brasil apresentam o mesmo problema.

Então, todas essas acusações contra o MST me pareceram coisa típica da moral farisaica, que "côa mosquito e engole camelo", ou dos sepulcros caiados, que "estão bonitos por fora e cheios de toda podridão por dentro". Lamentar 7 mil pés de laranja e não ver as 100 mil famílias que estão nas estradas, ignorar o grilo das terras, ignorar o que está acontecendo com os Guaranis no Mato Grosso, com os atingidos pelos grandes projetos, é uma moral de hipócritas, que coam mosquito e engolem elefantes.

Decidi fazer um texto ironizando o caso. A grande mídia rodeou o texto, telefonou, mandou e-mails, mas não mordeu a isca. Não iria repercutir um texto como esse. Muitos amigos riram na hora, até elogiaram a peça de marketing ou disseram que era mais fácil acreditar em "saci, ET de Varginha, Papai Noel etc.". Porém, talvez por ingenuidade, ou por querer ver algo de sério acontecer nesse país, muitos acreditaram, embora seja a essência do absurdo. Quem já viu grileiro devolver terras, respeitar sem terra, reconhecer os problemas históricos dos índios etc.?

Então, afirmo que o texto "Cutrale devolve terras griladas" é uma ficção e não podia ser outra coisa, tamanho o absurdo do conteúdo.

3 de nov. de 2009

Há 1 ponto de exploração sexual infantil a cada 26 km de rodovias

Seja para comprar comida ou fumar crack, o fato é que milhares de crianças e adolescentes estão espalhados pelas rodovias federais brasileiras oferecendo os corpos por até R$ 2. No Brasil, há um ponto vulnerável à exploração sexual infantil a cada 26,7 quilômetros - isso considerando apenas os locais em que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) já flagrou ou recebeu denúncia de menores de 18 anos submetidos à prostituição. A reportagem é de Renato Machado e Vitor Hugo Brandalise e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 03-11-2009.
Fonte: UNISINOS


Mapeamento da PRF apontou a existência de 1.819 pontos "vulneráveis" para a exploração sexual de menores nas estradas. São postos de combustíveis, bares, boates, restaurantes ou mesmo acostamento. Trata-se da quarta edição do mapeamento feito pela PRF em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), mas os dados gerais pouco variaram em relação à edição de 2007, com Minas e Rio Grande do Sul encabeçando a lista em número de pontos, com 290 e 217 respectivamente - os dois Estados, no entanto, têm grandes malhas viárias federais. Levando em conta quantidade e extensão das vias, os piores são Distrito Federal, Rio Grande do Norte e São Paulo.

Em São Paulo, há um ponto vulnerável a cada 14,8 quilômetros. Somente nos Vales do Ribeira e do Paraíba, apontados pela PRF como mais problemáticos, há 46 pontos vulneráveis. Mas o problema existe em todas as rodovias federais do Estado. Na semana passada, a reportagem flagrou, numa boate na Rodovia Fernão Dias, região de Mairiporã, um exemplo disso. Por preços que variavam entre R$ 30 e R$ 50, uma garota de 17 anos dizia fazer programas "há oito meses", para criar os dois filhos, que deixara numa cidade de Minas. Também usava o dinheiro para comprar maconha e, "ultimamente", crack.

A PRF agora vai utilizar os dados do mapeamento para dividir os locais em graus de vulnerabilidade, em parceria com o Instituto WCF Brasil. O resultado, desta vez, não será divulgado. "Achávamos que o conhecimento dos locais inibiria a atuação de criminosos. Mas constatamos que não inibiu e provocou migração para outros pontos", afirma o presidente da Comissão de Direitos Humanos da PRF-SP, Waldiwilson dos Santos. "Vamos manter sigilo para não atrapalhar as operações."

Mesmo após constatar a situação, a conexão com outros órgãos continua falha - somente a PRF tem o levantamento, impossibilitando cruzamento de dados. Das polícias rodoviárias estaduais, apenas a de Pernambuco manifestou interesse em fazer o mapeamento.

Perco a fé no ser humano quando leio notícias como essa. É inaceitável! Tais fatos deveriam ser combatidos com extremo rigor. Que absurdo. Que triste. Nem tenho dúvidas de que esse é  o resultado da ausência de políticas públicas.
Enoisa