25 de jun. de 2010

Desemprego mundial alcança recorde histórico

Artigo é do La Jornada. Tradução: Katarina Peixoto. Fonte: Carta Maior


O número de desempregados no mundo alcançou um nível histórico, chegando a 211 milhões, enquanto a geração de postos de trabalho estancou há mais de uma década, revelou um informe da Organização das Nações Unidas (ONU). "Hoje, o desemprego no mundo é o maior registrado na história”, expressou nesta quarta o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, na apresentação do informe sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio 2010.

Existem 211 milhões de pessoas sem trabalho e é necessário criar globalmente 470 milhões de novos postos de trabalho nos próximos 10 anos só para manter o passo do crescimento”, acrescentou.

Os objetivos das Metas do Milênio são oito parâmetros de desenvolvimento social que devem ser melhorados de maneira substancial, dos níveis de 1990 a 2015 e cujos progressos serão revisados numa reunião que ocorrerá em setembro próximo na ONU.

O informe comparou que no mundo em desenvolvimento existiam 63 empregos para cada 100 pessoas em 1998, enquanto que, em 2008, se reduziu a 62 e se manteve esse nível durante 2009.

As condições do mercado de trabalho seguiram se deteriorando em muitos países e é provável que afetem negativamente a grande parte do progresso obtido durante a década passada na meta de conseguir trabalhos decentes”, indicou.

No informe se explicou que a deterioração da economia provocou “uma forte queda na relação emprego/população” e que a produtividade laboral declinou em 2009 em relação ao ano anterior.

Na América Latina a relação entre emprego e população era de 58% em 1998; avançou apenas a 61% em 2008 e voltou a cair a 60% em 2009.

A ONU observou que o emprego vulnerável voltou a subir no último ano, depois de ter registrado um declive na década mais recente. Em 2009, era de 60%, enquanto que um ano anos era de 59% no mundo em desenvolvimento.

Na América Latina o percentual de pessoas auto-empregadas ou que administra negócios familiares aumentou de 31 a 32% entre 2008 e 2009, depois de registrar 35% em 1998. Mesmo assim aumentou na região o que a ONU chama de “trabalhadores pobres”, aqueles que têm um emprego, mas ganham menos de 1,25 dólares por dia. O índice subiu a 8% em 2009, depois de registrar 13% em 1998.

A tendência positiva de redução do emprego vulnerável foi interrompida pela deterioração das condições do mercado de trabalho causada pela crise financeira”, assentou o informe. No entanto, a ONU destacou alguns avanços na América Latina, como o percentual da população que vive em “situação de miséria”, que foi reduzido de 34% em 1990 para 24% em 2010.

No informe sobressaíram as reduções das taxas de mortalidade materno-infantil e os avanços na igualdade de gênero feitos na América Latina.

Em geral o informe ressaltou que se tem registrado notáveis avanços na redução da pobreza no mundo, embora estes se devam aos progressos realizados na China e na Índia, em especial.

O número de pessoas que subsiste com menos de 1,25 dólares por dia diminuiu de 46% em 1990 a 27% em 2005, e se espera que se reduzam a 15% para o ano de 2015.


[importante lembrar que essas porcentagens "escondem" pessoas. enoisa]

16 de jun. de 2010

Cartão Vermelho ao Trabalho Infantil

No Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, comemorado no dia 12/6,, o Brasil apresenta números que dão o tamanho do problema no país. A fiscalização do Ministério do Trabalho retirou desse tipo de atividade 16.894 crianças e adolescentes, entre 2007 e 2009. Neste ano, o número de crianças e adolescentes retirados do trabalho infantil já chega a 811.A reportagem é de Roberta Lopes, da Agência Brasil e publicada pelo EcoDebate, 14-06-2010.
Fonte: UNISINOS


Para o chefe da Divisão de Fiscalização do Trabalho Infantil do ministério, Luiz Henrique Ramos Lopes, o campo ainda é o local onde se registra o maior número de ilegalidades. “Nós vemos muito em fazendas, na agricultura, na pecuária, fazendo trabalhos de engraxate, trabalho doméstico. Principalmente nas cidades do interior ainda existem muitos casos”, afirmou.

Lopes disse ainda que a pobreza está ligada ao trabalho infantil e que para combater esse tipo de prática é necessário ter políticas públicas que apoiem essas famílias. “Tem que combater o trabalho infantil, mas você tem que dar educação, saúde, ter formas de desenvolvimento familiar para as crianças. Ainda há no campo muitas crianças trabalhando com seus país, com seus tios, isso ainda é muito comum”, disse.

A coordenadora da Secretaria Nacional de Assistência Social do Ministério do Desenvolvimento Social, Maura Luciane de Souza, que comanda o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), afirmou que o Peti desenvolve ações para o fortalecimento da família da criança, evitando que ela volte ao trabalho. “No caso de uma necessidade de inclusão de emprego, inclusão produtiva dessa família, podemos articular as políticas daquele município para a inserção dessa família”, disse.

Por meio dos centros de Referência de Assistência Social (Cras) e de Referência Especializado de Assistência Social (Cres), a família e as crianças recebem assistência social e psíquica, entre outras. Segundo a coordenadora, hoje mais de 800 mil crianças e adolescentes que foram retiradas do trabalho infantil são atendidas pelo Peti. Elas realizam “atividades socioeducativas, culturais, de esporte e lazer.”

Maura de Souza disse ainda que para a erradicação do trabalho infantil é necessário uma articulação entre todos os níveis de governos e com a participação da sociedade. “Não há como falar em erradicar o trabalho infantil se não houver articulação, integração, trabalho conjunto entre o governo federal, os estados e os municípios. E envolver todos os gestores, a política de assistência social, as demais políticas de educação, saúde, trabalho e fiscalização”, afirmou.

O Brasil se comprometeu com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) de erradicar as piores formas de trabalho infantil até 2016, entre elas estão o trabalho doméstico e o tráfico de drogas.

Para marcar o Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, a OIT e o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil lançaram a campanha Cartão Vermelho ao Trabalho Infantil que tem como garoto propaganda o jogador Robinho, da seleção brasileira de futebol, que cedeu o uso de sua imagem em prol da causa.




4 de jun. de 2010

É preciso uma verdadeira revolução

Artigo de Vandana Shiva, física e ambientalista indiana, publicado no jornal La Repubblica, 03-06-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: UNISINOS


Pensávamos que o fato de encorajar os agricultores a usar produtos químicos e sementes reprogramadas e a comercialização de sementes criadas em laboratórios trariam a prosperidade ao campo: agricultores prósperos não abraçariam as armas e, portanto, a paz estaria garantia.

Foi sobre a base desse raciocínio que Norman Borlaug, o pai da Revolução Verde, recebeu o Nobel da Paz. Mas se a teoria venceu o Nobel, a realidade não trouxe paz.

O Punjab, onde a revolução foi aplicada pela primeira vez, na Índia, tornou-se uma região de violências extremas entre o fim dos anos 70 e início dos 80. Em 1984, o Exército indiano invadiu o templo onde Bhinderwala, o líder dos extremistas, havia se refugiado.

No inverno daquele ano, Indira Gandhi foi assassinada, e esse homicídio desencadeou o assassinato de milhares de sikhs inocentes. A espiral de violência foi desencadeada pelas frustrações criadas pela Revolução Verde. Que era baseada em métodos de cultivo com forte intensidade de produtos químicos, de capital, de uso hídrico e energético, com a destruição dos terrenos, da água e da biodiversidade do Punjab.

No início, os subsídios públicos haviam amortizado o impacto, mas a necessidade de outros produtos químicos e a redução dos subsídios produziram uma economia negativa. E o agricultor, que gastava mais e ganhava menos, se deu conta de que não tinha nenhuma voz. A Revolução Verde não era verde nem por causa da sustentabilidade ecológica, nem por causa da paz. Tornou-se vermelho sangue, com mais de 30 mil de mortos no Punjab.

A violência dos anos 70 e 80, dirigida para o exterior, se transformou em uma violência contra si mesmos, que encontrou expressão na onda de suicídios entre os agricultores dos anos 90, quando veio a violência da globalização e da segunda Revolução Verde, com as sementes geneticamente modificadas da Bt Cotton. De 1997 até hoje, são 200 mil os agricultores que se suicidaram na Índia como resultado de uma agricultura com forte intensidade de capital e fatores produtivos externos, uma agricultura que cria endividamento, filha das duas revoluções verdes.

O que precisamos é de uma Revolução Verde autêntica. É o que busco construir desde os anos 80 com o projeto Navdanya. Os cultivos biológicos que respeitam a biodiversidade reduzem os custos e aumentam a produção, trabalhando de acordo e não em contraposição aos processos ecológicos naturais. Uma agricultura que faz as pazes com a natureza produz também uma maior quantidade de alimentos e nutrientes por hectare. É hora de acabar com o mito dos produtos químicos e da engenharia genética. Os produtos químicos e os transgênicos produzem mais elementos tóxicos, e não mais alimento e mais nutrientes. Não há lugar para eles em uma autêntica Revolução Verde.