21 de jan. de 2012

Os dias de mão de obra chinesa barata estão perto do fim


As fábricas do principal polo industrial da China voltaram a sentir o aperto financeiro: pela segunda vez em menos de um ano, os salários mínimos da província de Guangdong subiram nada menos que 20% em janeiro. A reportagem é de Kathleen E. Mclaughlin, publicada pelo Global Post e reproduzida pelo jornal O Estado de S. Paulo, 21-01-2012.
Fonte: UNISINOS

E, embora o salário mínimo de uma província chinesa possa parecer um problema local, a questão salarial demonstra que na China agora há um impulso constante para o estabelecimento de empresas voltadas à produção de artigos de alta qualidade, que remunerem melhor o trabalho.

Em outras palavras, os dias da mão de obra chinesa inesgotável e barata estão prestes a acabar. O que isso significará para consumidores dos Estados Unidos e de outros países é simples: em breve, os preços dos produtos chineses começarão a subir. "Acho que é um bom argumento, agora que a corrida global para um mercado de trabalho muito barato acabou", disse Geoffrey Crothall do China Labour Bulletin, grupo de defesa dos direitos do trabalhador com sede em Hong Kong. "Não há mais para onde ir."

O Delta do Rio das Pérolas deixou de ser um lugar favorável à indústria em termos de custos; ali foram criadas cadeias de suprimentos, fábricas e infraestrutura. As companhias que querem produzir a custo ultra baixo estão se mudando para o interior da China, ou para países mais pobres, como Bangladesh e Camboja. Entretanto, não há nada no horizonte que possa substituir o modelo chinês dos anos 1990 e 2000. "Talvez seja possível encontrar mão de obra mais barata fora da China, mas nunca na mesma escala", disse Crothall.

Dados recentes mostraram uma desaceleração significativa da indústria chinesa. Os analistas advertiram que essa tendência continuará, e será um problema para o governo, preocupado em manter o emprego elevado. No entanto, a China está decidida a produzir mercadorias de valor mais elevado e pressiona nesse sentido.

Em Guangdong, onde milhares de pequenas fábricas fecharam as portas nos últimos anos por causa da alta dos custos, os seus proprietários protestam contra a obrigatoriedade de aumentar salários. Entretanto, organizações trabalhistas afirmam que a medida é necessária para que os trabalhadores possam enfrentar o rápido aumento da inflação e defendem o objetivo do governo - deixar de produzir mercadorias baratas.

Os diretores das fábricas dizem que compreendem o desejo do governo de fazer a transição para a produção de mercadorias mais caras, mas ela não pode ser forçada nem poderá ocorrer da noite para o dia. Várias associações de industriais de Hong Kong protestaram contra o recente aumento dos salários adotado pelo governo de Guangdong, argumentando que é excessivo e rápido demais.

Stanley Lau, vice-diretor da Federação das Indústrias de Hong Kong, afirmou que os industriais precisam de um período de transição. Segundo ele, as empresas querem investir em moderna automação, pesquisa e desenvolvimento, mas é um processo que leva tempo. "Para isso, precisamos de recursos, Não posso simplesmente fazer o upgrade de uma fábrica com palavras."

Ao mesmo tempo, os proprietários de pequenas empresas do Delta do Rio das Pérolas afirmam que o aumento dos custos, e não apenas para pagar os salários, os está levando para o colapso.

"O que mais podemos fazer? Precisamos jogar de acordo com as regras", observa Wu Keshu, da fábrica de Cerâmicas Hongtai, de Chaozhou, em entrevista por telefone. "Não temos maneiras inovadoras para reagir."

"Teremos de nos adaptar a essa nova situação elevando os preços", disse Wu. "Estamos observando um certo declínio nos negócios, mas não muito."

Durante dezenas de anos, a província de Guangdong e o Delta do Rio das Pérolas foram o centro da ascensão econômica da China. E, embora as grandes indústrias e as companhias estatais tenham contribuído significativamente para a expansão da economia, as pequenas e médias empresas também ajudaram a impulsionar a China, tornando-a a segunda maior economia mundial.

Com o aumento dos salários, dos custos das matérias-primas e de outros custos, as empresas menores afirmam que estão sendo obrigadas a sair do ramo.

Segundo Lau, a se manter o ritmo atual, este ano 30% das fábricas de Guangdong reduzirão a produção ou fecharão em razão da elevação do salário mínimo decretada no ano passado. Outro aumento de 18 a 20% acabará com a indústria.

Mas Crothall não é muito condescendente, e observa que, embora a inflação tenha diminuído um pouco, os trabalhadores chineses precisarão de mais do que isso para sobreviver.

Fábrica da Hyundai em Piracicaba acumula problemas trabalhistas


Anunciada como a fábrica de automóveis mais moderna do País, a unidade da sul-coreana Hyundai em Piracicaba, a 164 km de São Paulo, que deve entrar em operação até o fim do ano, acumula conflitos na relação com os trabalhadores. Alojamentos das construtoras terceirizadas foram interditados seis vezes por irregularidades como falta de higiene e água potável ao longo do ano passado. A reportagem é de José Maria Tomazela e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 21-01-2012.
Fonte: UNISINOS

Há duas semanas, a Hyundai e suas contratadas foram obrigadas a firmar Termos de Ajuste de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho (MPT) que preveem multa de até R$ 50 mil por descumprimento dos acordos. Na terça-feira, um operário morreu em acidente na fábrica por suposta falha nos equipamentos de segurança.

Ao lado da agenda positiva, como a criação de 4 mil empregos diretos e a expectativa de alavancar o desenvolvimento da região, a chegada da primeira montadora de automóveis de Piracicaba preocupa pelo impacto que está produzindo no mercado de trabalho local. De acordo com o técnico em segurança Marco Hister, do Centro de Referência da Saúde do Trabalhador (Cerest), a maior parte dos 1,5 mil operários que trabalham na obra foi trazida de outras regiões. "Há risco de que, com o término da construção, essa mão de obra não seja absorvida e fique excluída na cidade." Segundo ele, já houve aumento de demanda por serviço público. "Unidades de saúde próximas de alojamentos estão superlotadas."

A chegada da montadora também elevou o preço do aluguel e os trabalhadores podem ter dificuldade para obter moradia. "Tememos que o pessoal vá para a periferia, engrossando favelas."

Para o tesoureiro do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, Edson Batista dos Santos, os problemas trabalhistas decorrem de uma filosofia da empresa de repassar mão de obra. "A construtora que opera para a Hyundai foi desleixada. Flagramos alojamentos superlotados, sem higiene, sem água potável, com colchões no chão ou camas feitas de chapas de madeira."

Houve ainda casos de atraso de pagamento e de trabalhadores que passaram mal. "Como a Hyundai alegava não ter condições de fiscalizar as terceirizadas, optamos pela interdição dos alojamentos até a solução do problema."

Intervenção

A situação culminou com a intervenção do Ministério Público do Trabalho. Em TACs assinados nos dias 4 e 5 com a Hyundai Motor Brasil, Hyundai Amco do Brasil e empresas terceirizadas, a montadora assumiu a responsabilidade pelas relações de coligadas e terceirizadas com os trabalhadores. "Os empregados contratados por meio de empresas terceirizadas devem receber o mesmo tratamento dispensado pelas empresas aos seus próprios funcionários no que se refere às normas de segurança, conforme dita o TAC", informou o MPT. Caso descumpram o acordo, as empresas estão sujeitas ao pagamento de multa de R$ 10 mil, até dezembro deste ano, e de R$ 50 mil no ano seguinte, além de multa diária até a regularização.

O MPT informou que investiga a Hyundai e as empresas envolvidas na montagem do parque automotivo desde agosto de 2011. Para a elaboração dos acordos, foi considerada a grande quantidade de subcontratadas em regime de terceirização, situação responsável pela precarização das condições de trabalho, e também a contratação de mão de obra oriunda de outras cidades e Estados. Uma diligência realizada em 5 de dezembro pelo MPT, Cerest e Ministério do Trabalho comprovou irregularidades nos canteiros de obras com relação à instalação de banheiros, vestiários e refeitórios das prestadoras de serviço.

Mas, apesar do acordo, alguns problemas persistem. Na última terça-feira, o instalador Harley Van Ciriaco da Silva, de 24 anos, morreu após cair de uma estrutura metálica em construção no parque automotivo. De acordo com Milton Costa, presidente do sindicato da construção, ele estava com cinto de segurança, mas o equipamento pode ter falhado.

Para empresa, subcontratadas têm de se adaptar

Segundo a Hyundai, todos os problemas apontados até o momento dizem respeito às empresas subcontratadas para a obra de construção da fábrica que, antes mesmo da assinatura do termo de ajustamento de conduta (TAC), passaram a ser fiscalizadas e notificadas para se adequarem à legislação trabalhista. "A Hyundai Motor tem responsabilidade subsidiária, conforme o TAC, apenas perante a instalação dos equipamentos, e não sobre a construção da fábrica, esta vinculada à Hyundai Amco, que no Brasil se trata de uma empresa totalmente separada da Hyundai Motor", informou, em nota.

Mesmo assim, segundo a nota, a Hyundai Motor tem fiscalizado essas empresas para que elas cumpram as exigências trabalhistas legais. "A assinatura do TAC reforça que as condições de trabalho devem ser as mesmas para todos os envolvidos na obra, o que também foi considerado positivo pela Hyundai Motor."

Sobre a morte do operário, a empresa informou que está conduzindo uma análise interna para identificar as causas do acidente e só após os resultados conclusivos oficiais poderá se pronunciar a respeito.