14 de nov. de 2009

Professores da UFPA saem em defesa do MST

A produção de um "novo" massacre?
Fonte: Correio da Cidadania 


É clara a campanha nacional de criminalização dos movimentos sociais no Brasil e também é nítida a participação nesse processo de setores de nossa sociedade comprometidos com a defesa da propriedade privada em detrimento de sua função social. Englobando essa campanha ainda temos nossas mídias impressas e televisivas veiculando matérias e reportagens que criam fatos e divulgam versões de acontecimentos desmoralizando movimentos e suas bandeiras de luta.

Nesse cenário, a desmoralização do MST parece ser a primeira tarefa desta campanha nacional de criminalização dos movimentos sociais e o sentido que ganha essa desmoralização é claro: é preciso criar fatos e notícias que construam uma imagem negativa do movimento para que qualquer ação contra o mesmo tenha uma legitimidade social; coloniza-se o imaginário para legitimar ações brutais.

Mas precisamos analisar os fios que tecem essas estratégias e as conseqüências drásticas que as mesmas estão trazendo e podem ainda trazer.

No caso do MST uma rede muito bem estruturada e articulada vem produzindo, quase que diariamente, um conjunto de fatos que viram notícias de ampla circulação e divulgação nacional, sendo que estas notícias ganham autonomia de construir realidades e, assim, difundir uma verdade sobre o movimento que ganha aceitação e, muitas vezes, aclamação popular.

A estratégia de produção do estereótipo começa com a construção de um fato que ganha tons de negatividade e desorganização da pretensa "ordem" social. Os fatos são literalmente criados obscuramente e nos momentos de mobilização e agendas do movimento, algo deve acontecer...

Após o fato efetivado é preciso criar notícias e fazer circular uma imagem de destruição. Nestes termos, fatos isolados ganham uma visibilidade estrondosa, no sentido de ações obscuras forjadas para se criar fatos jornalísticos, e se transformam na prática usual.

Diante das notícias uma necessidade se edifica: construir os mocinhos e os bandidos da situação. Logicamente que esta é hora de se vestir o discurso jornalístico com os tons do discurso legalista e automaticamente condenar o movimento criminalizando-o.

Até aí a mídia assume as rédeas da desmoralização, após isso outros sujeitos políticos entram no processo.

A justiça, nesse sentido, após o fato se consolidar como algo que deve ser resolvido de forma urgente, precisa encontrar os culpados e, assim, personifica-se o movimento e se indicia suas lideranças, no sentido de desmobilizá-lo.

Diante de todas estas estratégias, que são engolidas dia-a-dia pela população através das notícias, cria-se uma legitimidade social para as prisões. Será que um novo massacre está se construindo?

Estamos vendo e vivenciando no sudeste do Pará mais uma tentativa desmedida de criminalização do MST que articula múltiplas esferas de poder com a condescendência passiva de nossa mídia vendida e vendível.

O MST iniciou dia 3 de novembro a Jornada de Lutas pela Reforma Agrária exigindo a desapropriação imediata de todas as fazendas ocupadas por eles para atender 2000 famílias acampadas no estado do Pará.

É durante as atividades desta jornada de lutas que mais um fato se cria e mais uma vez o MST é criminalizado, como que se lutar pela função social da propriedade fosse crime no Brasil.

Na última sexta-feira não tivemos um novo massacre novamente na curva do "S" em Eldorado dos Carajás, pois lá estavam pessoas que impediram a ação violenta da polícia.

O pior de tudo isso é que a sociedade, pela campanha da mídia de demonização do movimento, não compreende o valor de sua luta e acaba legitimando as ações violentas contra o mesmo. Temos de ter o cuidado de não sermos cúmplices de um novo massacre que se anuncia.

O Núcleo de Educação do Campo da Universidade Federal do Pará, Campus de Marabá, tem desenvolvido parcerias estratégicas de formação com o MST, a FETAGRI, a Via Campesina e outros movimentos, no sentido de construir a autonomia dos sujeitos participantes através da formação de um senso crítico acerca das contradições envolvidas no processo de desenvolvimento pensado para a Amazônia.

Por isso, o Núcleo de Educação do Campo da Universidade Federal do Pará – Campus de Marabá apóia o MST e reforça a necessidade de abertura de negociação com o INCRA, o MDA e o ITERPA, colocando-se completamente contra as prisões recentemente decretadas, pois acredita que a defesa da FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE é algo que a Constituição prevê e deve garantir.

Justiça social no campo só com REFORMA AGRÁRIA.


Marabá, 11 de novembro de 2009.


Assinam:

Bruno Cezar Maleiro – professor UFPa
Alexandre – professor UFPa
Haroldo Souza – professor UFPa
Francinei Bentes Tavares – professor UFPa
Eliana Pereira M. Soares – professora UFPa
Ronaldo da Silva Souza – professor UFPa
Edma Moreira – professora Ufpa
Cloves Barbosa – professor UFPa
Hildete dos Anjos – professora Ufpa
Joseline Simone Trindade – professora UFPa
José Pedro Martins – professor UFPa
Evandro Medeiros – professor UFPa
William Assis Santos – professor UFPa
Fernando Michellotti – professor UFPa
Idelma Santiago – professora IFPa
Airton Pereira – professor UEPa
Maria Carolina de Souza santos – estudante UFPa
Suzane Chagas Rodrigues – estudante UFPa
Roman de Souza Cabral – estudante UFPa
Simone Brandão Miranda – estudante UFPa
Maria Lúcia da Silva Coelho – estudante UFPa
Leandro de Souza e Silva – estudante UFPa
Cristiano Brito da Silva – estudante UFPa
Adriany Costa Ferreira – estudante UFPa
Aline Carla A. Carvalho – estudante UFPa
Carla Betânia Reiher – estudante UFPa
Iramita Alves Pimentel – estudante UFPa
Sidineia dos Santos Reis – estudante UFPa
Iara Fernandes Reis – estudante UFPa
Ynoã Soares de Camargo – estudante UFPa
Junior Gleyssom da Cruz – estudante UFPa
Elias F. de Souza – estudante UFPa
Zildeane Rodrigues de Medeiros – estudante UFPa
Thiago Martins da Cruz – estudante UFPa
Agelson Vaz Nascimento – estudante UFPa
Genivaldo Sousa Rocha – estudante UFPa
Adriano Vieira – estudante UFPa
Jane Martins dos Santos – estudante UFPa
Ângela Maria Gregório – estudante UFPa
Risone B. Costa – estudante UFPa
Osmarina Oliveira – estudante UFPa
Suzy Gomes dos Santos – estudante UFPa
Antonielda da Silva assunção – estudante UFPa
Rafael Rodrigues Lopes – estudante UFPa
Marcelo Melo dos Santos – estudante UFPa
Etiane Patrícia dos Reis – estudante UFPa
Raimundo Gomes da Cruz Neto – Sociólogo
Eric de Belém – Antropólogo
Rosemayre Bezerra - Socióloga